julho 14, 2013

Fanfic Sra e Sra Kim
Escrita por ByunBiia
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Notas da Autora: Oii pessoas lindas!!! *-* Mil desculpas pela demora, é que eu meio que estou de castigo porque fiz coisinhas erradas na escola (V1D4 L0K4 -q) hehe Ae não ta dando pra escrever direitinho. E também estou com alguns probleminhas na vida amorosa < / 3 . É gente... Não tá fácil pra ninguém mesmo, mas vou tentar atualizar assim que der. ^-^ Enfim, é só isso e desculpa qualquer erro ae. Go go ler!


Taeyeon pov

Tiffany saiu da cozinha as pressas, sussurrava rapidamente, os telefonemas não tinham hora, lugar ou até mesmo data pra acontecer, podia ser nosso aniversário de casamento, se o telefone tocava, ela atendia. Nem eu que trabalhava no que trabalhava atendia o telefone em datas assim. Era muito descaso da parte dela. Olhando para a travessa suja em minhas mãos, ouvi-a subir a escada apressadamente em direção ao nosso quarto. Onde poderia falar com privacidade. Mesmo assim fiquei de ouvidos atentos. Mas nada podia ser ouvido.
Depois peguei o prato sujo e joguei-o direto na porra da máquina. Sem enxaguá-lo antesUm ato de rebeldia, nada de mais. De repente ouvi um barulho estranho no andar de cima, como se alguém arrastasse um móvel — ou um corpo.
Apertei os olhos, pensando: "Que porra é essa agora?".
Eu não ligava, mas... talvez Tiffany precisasse de ajuda. Ela era tão frágil e se algo caísse em cima dela? Calmamente, como quem não quer nada, subi em direção ao nosso quarto. Já no corredor, pude ver que a porta estava entreaberta. O suficiente para que eu desse uma espiada.
Tiffany, de costas para mim, tinha acabado de vestir o casaco. Ainda sussurrava ao telefone, mas pude ouvi-la dizer:
— Sei... entendi... na suíte do último andar. Estarei lá em quaren­ta e cinco minutos.
Suíte do último andar? O que ela vai fazer na suíte do ultimo andar?
Ela desligou, e eu recuei. Mas ao toque do meu salto o assoalho rangeu um tantinho de nada. Ela se virou de repente e me viu parada à porta.
— Querida, você quase me mata de susto.
— Desculpa — eu disse com o máximo de displicência. — Só queria saber se não era nenhum problema.
Ela revirou os olhos e jogou o aparelho sobre a cama.
— Algum pateta fez uma burrice qualquer e arruinou o servidor de um escritório de advocacia na cidade. Sem servidor essa gente não faz nada. — Seus movimentos pareciam exagerados; a voz, um pouco alta demais. Ela estava escondendo algo. Ela encolhia os ombros, como se quisesse se desculpar. — Preciso ir até lá.
– Mas a gente prometeu aos Lee que...  - Subitamente rígida, Tiffany olhou para o relógio e disse:
– Volto em torno das nove. É só uma rapidinha. – “só uma rapidinha” isso soou péssimo nos meus ouvidos. Ela sorriu. Eu sorri. Sorrisos de praxe, nada mais.
Eu não podia deixar de pensar aonde ela ia, com quem, e o pior, fazer o que? Talvez ela também imaginasse o mesmo. Não sei. Há tempos deixei de me importar.
Fui até a janela, os faróis do carro me iluminaram como um par de lanternas, e depois ela sumiu. Um relógio tiquetaqueava na lareira. De repente, nossa casa perfeita me pareceu grande demais, vazia demais. Felizmente eu tinha um pequeno compromisso também e decidi resolve-lo logo, mas fui impedida ao lembrar da Seo que estava em seu quarto que por sinal, estava muito silencioso. Aproximei-me da porta e bati na mesma.
- Seobaby? Posso entrar? – Ouvi uns múrmuros vindos de dentro do quarto e insisti – Hum... Seo? Está ai?
- Espera um pouco Tae unnie. – Segundos depois a porta se abriu me dando espaço para entrar.
- Com quem estava falando? Ouvi umas vozes.
- Com ninguém, é que a TV estava ligada. – Ela respondeu nervosa que eu não acreditei muito.
- Sabe que pode me falar a verdade né? – perguntei e ela me pareceu insegura, mas acabou cedendo.
- Pode sair. – ela falou alto e vi uma garota sair de debaixo da cama com a cabeça abaixada, okay... O que esta acontecendo aqui?
 - Tae unnie essa é a Yoona, uma amiga da escola.
- E o que ela estava fazendo debaixo da sua cama? – perguntei com um olhar de reprovação e logo vi a tal de Yoona tomar a frente.
- Não foi culpa dela, eu vim sem avisar, foi minha culpa, não brigue com a Seo por isso.
- Quem você pensa que é para se meter na conversa dos outros assim? – perguntei com um tom de raiva e a Seo fez uma expressão confusa.
- Sou Kwon Yoona senhora, não quis causar qualquer incomodo. – Ela respondeu logo abaixando a cabeça como se estivesse com medo, não resisti e comecei a rir sendo acompanhada por Seohyun, a garota apenas nos olhava assustada.
- Desculpa se te assustei não foi a intenção haha, Seobaby sua amiga é engraçada. – A garota continuou me olhando meio confusa.
- Relaxa Yoong, ela não vai fazer nada. – Seo falou colocando a mão no ombro dela e vi-a relaxar um pouco. Mas... Kwon? Esse nome não me é estranho...
- Enfim, só vim avisar que a Tippany saiu e eu também vou ter que dar uma saidinha, você vai ficar bem? – Perguntei pra Seo.
- Tudo bem, a Yoong pode ficar aqui até você voltar, né? – Ela perguntou para a garota que apenas assentiu com a cabeça.
- Okay, já vou então, não façam bagunça e cuide bem do meu bebê Yoona. – Vi Yoona corar e a Seo rir dela, isso é estranho.
- Bye unnie. – respondeu Seo.
- Tchau Sra. Kim. – foi a ultima coisa que ouvi ao sair do quarto e seguir para a porta de casa.
Meia hora mais tarde, eu atravessava a ponte com o meu chofer de aluguel — um cara chamado Yousef. Eu não sabia ao certo se Yousef estava contente ou puto da vida por estar me le­vando em seu táxi àquela hora. De certo, um pouquinho dos dois. Eu sabia como era isso, ah, como sabia. O cara dirigia mal à beça.
Eu ainda estava com um vestido vermelho que marcava bem meu corpo e mostrava minhas pernas o suficiente pra deixar qualquer um louco. O táxi de Yousef estava lon­ge de ser uma Limusine: não tinha uma janela que funcionasse e muito menos um bar generosamente sortido. Remexi em minha bolsa
Atrás de meu isqueiro, logo avistei meu cantil. Um bom gole cairia bem agora. Mas não o levei imediatamente à boca, pois passamos por cima de alguma coisa no asfalto. Olhando para o cantil, meus olhos caíram sobre a dedicatória gravada na prata. Nossa quanto tempo fazia que eu não lia aquilo?
"Às balas que não nos encontraram. Tiffany" Tá bom. Saúde pra você também, Linda. Dei um longo trago na bebida.
Yousef me encarou surpreendido quando me viu beber, normalmente damas não bebem assim. Esse hábito eu devo a minha mãe. A rua era escura e ameaçadoramente silenciosa. Restos de lixo moviam-se sobre a calçada como se fossem ratos. Talvez de fato fossem ratos. Me arrepiei com a hipótese.
Paguei ao motorista e dei a ele uma gorjeta polpuda o suficiente para que enchesse a cara e esquecesse para sempre que um dia tinha me visto. Tão logo desci do carro ele arrancou em disparada, como se o capeta em pessoa estivesse atrás dele. Fiquei sozinha na rua. Era perigoso, uma dama andar por ali desacompanhada. Eu ri com esse pensamento, seria divertido ver alguém tentar me assaltar.
Atravessei a rua indo em direção ao meu destino e desci um bolorento lance de es­cada até uma porta coberta por um tapume preto. Toquei a campai­nha e depois de alguns instantes a porta se abriu com um dique. Entrei e olhei ao meu redor.
Caramba. Talvez Yousef tivesse razão. O tal lugar era sem dúvida a última parada antes do inferno. Uma lâmpada nua pendia sobre a caixa registradora, revelando duas ou três putas completamente grogues, que mal conseguiam se apoiar no balcão. O breu me poupou de ver o que mais se passava naquela espelunca fétida.
Sentei-me num banco que corria o risco de furar as tábuas podres do assoalho. Encontrei meu equilíbrio e esperei que o barman notas­se minha presença. Ele rapidamente o fez e praticamente me comeu com os olhos.
– Em que posso lhe ajudar senhorita?
– Que cerveja você tem aí? — perguntei.
– Guinness...
Esperei pelas outras opções, mas ele não disse mais nada. Assim ficaria mais fácil escolher.
— Então me vê um Red Label com Club Soda. Não precisa exagerar na soda.
Enquanto ele me servia o drinque, recostei-me no balcão e ana­lisei a decoração do lugar. Com meus olhos acostumados à escuri­dão, percebi que a penumbra encobria vários tipos de contravenção: drogas, jogos, dinheiro sendo trocado por saquinhos muxibentos. E pelos cantos, outras coisinhas que preferi ignorar.
Mais ao fundo, uma cortina parcialmente fechada marcava o início de um corredor e mais uma sequência de buracos secretos. O barman trouxe meu drinque, dando ele cuidadosamente na minha mão. Talvez achasse que eu pudesse me interessar por ele, coitado. Então virei-me para o bar e olhei para a bebida. Era qualquer coisa preta, nem de longe parecida com o que eu havia pedido.
Mas o olhar do barman sugeria que ele não era lá muito receptivo a críticas, e achei melhor mandar aquilo para dentro de uma só vez. Afinal, pensei, álcool é álcool. Uau! Agora, sim. Depois de um tempo resolvi agir.
— Onde fica o banheiro? — perguntei. Ele me olhou sugestivamente e com o queixo ele apontou para a cortina dos fundos.
Caminhei até a cortina e, cambalean­do, segui pelo corredor até encontrar duas portas. Numa delas estava escrito: "MICTÓRIO." E na outra: "CAI FORA". Mais fino impossível.
Uma coisa não posso negar: sempre tive problemas com as placas de "não entrar". Há algo nelas que me deixa extremamente curiosa. Não consigo relevar. Então não resisti e, como o poeta, escolhi o caminho menos percorrido. Quase caí do outro lado.
— Caralho! — alguém gritou.
Eu havia interrompido um jogo de pôquer. Um jogo privado, muito privado. Desses que só rolam nas saletas dos fundos das espeluncas. Três tipos extremamente mal-encarados e um meliante com cara de assassino olharam para mim, mal acreditando no que estavam vendo.
– Uau você é nova aqui, começou hoje? — um deles perguntou com um sorriso maníaco, ele bateu em seu joelho num gesto pra que eu me sentasse em seu colo.
– Desculpa — eu disse. — Estava procurando o banheiro. — Fiz menção de sair, mas depois, cambaleando um pouco, dei meia-volta e disse: — Isso aí é pôquer?
– Jogo privado — disse alguém. — Mas pra uma moça tão linda, nós talvez abríssemos uma exceção.
– Eu tenho dinheiro e amo pôquer — o sorriso deles dobrou de tamanho. Revirei os olhos internamente. Homens!
Então eles sussurraram algumas palavras entre si. Nada que eu pudesse compreender, mas ouvi alguém chamar o meliante de  Leeteuk. Tive a impressão de que ele era o Manda-Chuva por ali. Eu podia ler na testa de Leeteuk: "Almofadinha rico, com cara de merda e o bolso cheio de presidentes mortos, precisando fazer um depósito — que mal haveria nisso?". Eu estava quase dentro.
– Sentimos informar moça, mas não temos lugar pra mais um jogador – um dos caras disse, ele parecia triste por dizer isso.
– Sei lá, tem essa cadeira vazia aí... — falei.
– Essa cadeira tem dono — rugiu Leeteuk. Ele era gay, só podia. — É do Heechul. Era só isso o que me faltava.
– E quando o Heechul vai chegar?
– Na hora que ele quiser, porra.
– Mas quem sabe eu posso ficar no lugar dele até ele chegar? — arrisquei. — Você viu, eu tenho uma bolada.
Os caras em volta da mesa trocaram olhares maliciosos, estava estampado na cara deles: "Que tal a gente se divertir um pouco enquanto o Heechul não vem?".
Leeteuk afastou a cadeira vazia com um chute. Sorrindo como uma idiota, me joguei em cima dela.

Tiffany pov
Com a discrição de sempre, passei de um carro a outro assim que cheguei à cidade. "Quem não planta não colhe", resmunguei para mim mesma ao me jogar no banco de trás do táxi que me levaria até o centro, onde eu era aguardada. Chamadas no meio da noite não eram nem um pouco incomuns no meu ramo de trabalho. E o salário, nada desprezível.
Meu Deus! Se Taeyeon sequer suspeitasse do que fazia quando esca­pava da nossa vida sufocante no meio da noite... O que ela acharia? Talvez nem se importasse.
Senti um leve tremor e depois olhei pela janela, observando a ci­dade que se desfraldava do lado de fora. As pessoas andando pelas ruas, as luzes brilhantes cortando o céu da noite, tudo isso fazia lembrar-me de um parque à beira-mar ao qual meu pai havia me levado quando eu ainda era pequena — Senti um aperto no peito. Os brinquedos vertiginosos, os espetáculos de aberrações — coisas que me deixavam ao mesmo tempo fasci­nada e aterrorizada, embora eu pudesse contar com a segurança de um braço forte que me levava pela mão — e que de vez em quando me jogava para o alto, mas jamais me abandonava.
Até que um dia foi abrigado a me abandonar. Inferno!
"Calma, concentre-se", disse a mim mesma. "Você tem um tra­balho a fazer."
Abaixei a janela para deixar o vento fresco varrer as dores do passado. Escolhi um dos prédios mais adiante e comecei a contar os andares, um joguete que me divertia sempre que andava de táxi. Depois de contar os andares, calculava o número de apartamen­tos em cada andar e o número de pessoas em cada apartamento, chegando por fim ao número de pessoas que moravam no prédio inteiro. Não podia deixar de divagar, quantas pessoas estariam felizes, tristes. Comendo, rindo, brincando, jogando uma partida de xadrez. Como dizia papai: “Nada supera uma partida de xadrez” automaticamente me veio a cabeça a frase que a Tae me disse em Bogotá. Fechei meus olhos com força. Agora não era hora para aquilo.
E então o motorista parou junto ao meio-fio. Através da janela, olhei para o alto e vi meu destino final: o elegantérrimo e caríssimo hotel. Ocupação máxima todas as noites.
Quem eram essas pessoas? E que diabos faziam para ganhar di­nheiro suficiente para ficar ali, em vez de se hospedarem num mo­tel à beira de estrada?
Lá em cima, num daqueles andares privilegiados, um dos hós­pedes igualmente privilegiados esperava por mim. Talvez até sali­vasse, ansioso por minha chegada. E meu trabalho era dar a ele uma noite de sonhos. Por assim dizer.
Eu sabia exatamente o que ele fazia para poder se hospedar ali. Dei uma bela gorjeta ao motorista e, sussurrando, disse a ele que se esquecesse da minha cara. Depois peguei minha "maleta de médico" e saí do carro, cuidando para não sujar as botas de salto alto na sarjeta.
Caminhando em direção ao hotel, senti meu casaco se abrir aci­dentalmente e percebi que o porteiro quase desmaiou. Ótimo. Era exatamente assim que meu cliente deveria reagir ao ver o modelito de couro preto que eu havia escolhido para aquela noite.
Sempre foi mais fácil lidar com os homens quando eles estão de joelhos. Atravessei o lobby como uma pantera. Procurei não chamar muita atenção, mas os homens, contumazes caçadores, não tira­ram o olho da minha carcaça até me verem entrar no elevador.
Uma vez dentro, passei a mão pela longa coluna de números e apertei o mais alto deles. Suíte presidencial. Nada menos que o melhor para esse homem. E isso incluía a mim também. Entretanto, eu daria a ele muito mais do que seu dinheiro podia comprar.
Eu entrara nesse ramo anos atrás, muito antes de conhecer minha esposa. Mesmo depois de casada, continuei com minha... Carreira particular. Era experiente. Bem treinada. Excelente profissional. Orgulhava-me de ser a melhor de todas. O elevador parou no último andar. As portas se abriram com um chiado.
"Hora do espetáculo", pensei com um frio no estômago, a des­carga de adrenalina que geralmente sinto minutos antes de entrar em ação. Quantas secretárias ou quantos programadores poderiam dizer a mesma coisa? Quando as portas duplas da suíte se abriram, fui recebida por um guarda-costas do tamanho de um freezerDe açougue.
— Carlotta? — ele rosnou. Apenas sorri e entrei.
Enquanto ele trancava a porta atrás de mim, rapidamente ana­lisei o espaço: portas, janelas, distribuição dos espaços. Na sala principal, mais quatro guarda-costas — cada um mais feio que o outro — se apertavam diante da TV, assistindo a um programa de perguntas e respostas. Sorri. Um bando de EinsteinsPerfeito.
— O que tem aí nessa bolsa? — perguntou o freezer.
Não respondi, apenas abri a bolsa para que ele inspecionasse. Um a um, ele retirou todos os meus instrumentos de trabalho: um chicote comprido e safado, outro de nove tiras, um par de algemas. Nada disso o fez corar. De certo já vira o chefão fazer isso outras vezes. Jogou a tralha de volta e empurrou a bolsa em minhas mãos.
— Temos que tomar um avião daqui à uma hora — alertou. Pisquei os olhos e disse:
— Sou o gatilho mais rápido do Oeste.
Ele balbuciou qualquer coisa, apontou para um corredor e de­pois voltou à televisão. Os gorilas tentavam adivinhar o nome de um filme antigo, do qual era exibido um pequeno trecho. Não faziam a menor ideia. Aliás, não faziam a menor ideia de nadaMas o filme era fácil. Preto-e-branco, Cary Grant. Filminho simpático a respeito de um cadáver. Um dos meus favoritos.
— Este mundo é um hospício — soprei, antes de sumir no cor­redor.
Ficaram extasiados quando o apresentador do programa confir­mou que eu estava certa. Caras como esses jamais esperam que uma mulher tenha cére­bro. Acham que prestamos apenas para uma coisa. Engano deles. Sorte minha. Meu trabalho fica muito mais fácil quando sou subestimada. E então chegara a hora. Com todas as antenas em pé, entrei si­lenciosamente no quarto e fechei a porta.
Fui recebida com uma fanfarra de gargarejos e cusparadas no banheiro: meu anfitrião se refrescava para me receber. Ótimo. Isso me dava tempo para estudar o lugar. Cama enorme e colcha com estampa de zebra. (Eca!)
Portas de vidro que davam para uma ampla varanda no alto do prédio. (Excelente!) Abri minha bolsa sobre a cama e senti o cheiro do meu cliente, que se aproximava sorrateira­mente pelas minhas costas. Virei o rosto e ofereci a ele o meu sorriso mais sensual.
O homem grunhiu como um cachorro. Parecia um pastor ale­mão prestes a abocanhar um suculento filé de carne crua. Nichkhun Horvejkul.
"Puxa, Nichkhun, como você está acabado!", pensei.
Mas a expressão em meu rosto dizia: "Vem aqui, garanhão! A noitada está paga, e eu sou toda sua!".
Ele andou ao meu redor, lentamente, lambendo os beiços como se admirasse a mercadoria. Sem me alterar, deixei que olhasse. Queria que ficasse excitado a ponto de comer das minhas mãos. Depois de alguns instantes, andei até a porta e tranquei-a. E virei-me para ele. Ele vasculhava a bolsa que eu havia deixado sobre a cama.
– Achou alguma coisa interessante? — eu disse, quase ronronando. Depois abri um botão e deixei que o casaco caísse aos meus pés, revelando os trajes da noite: uniforme completo de dominatrix.
– Muita coisa — ele babou.
Em seguida, tomou-me nos braços suarentos e sussurrou algu­ma coisa no meu ouvido — nada que valha a pena repetir aqui.
– Muita gente já foi presa por dizer isso, bonitão — respondi.
– Não no meu país — ele devolveu.
Ótimo. Ele estava no ponto. Hora de entrar em ação. Estalei os nós dos dedos, empurrei-o sobre a cama e peguei mi­nha bolsa.

Taeyeon pov

— Merda! — eu disse, jogando as cartas na mesa e fazendo bico.
Um deles sorriu e puxou as fichas para si.
— Faltava uma única carta! — reclamei. Eles riram e outro me deu um beijo consolador na bochecha e sussurrou “Quem sabe na próxima princesa”. A mudança da banca não me trouxe sorte nenhuma, e os resulta­dos foram basicamente os mesmos.
— Oh de novo, mas que merda! — reclamei de novo — Eu estava tão perto – eu mordi meu lábio e podia ver aonde os pensamentos deles iam. Tarados!
De início meus companheiros de pôquer tinham relutado em me deixar entrar no jogo. No entanto, quanto eu mais perdia, mais ga­nhava a simpatia deles. Impressionante.
Depois de três rodadas no prejuízo fiquei meio zonza, comecei a achar que devia parar. Mas eles me incentivavam com palavras de apoio: "Deixa disso, princesa, tá cedo pra jogar a toalha", diziam. Uns amigos-da-onça, isso sim. Na mão seguinte, quando Leeteuk aumentou a aposta, fui logo di­zendo:
– Pago. Quer dizer, passo. Não... pago. — Só parei quando Leeteuk lembrou que não era minha vez de jogar. E depois perdi de novo.
– Merda! — exclamei ao constatar que um deles tinha blefado com um par de damas, fazendo com que eu passasse com uma trinca de dez na mão. — Essa eu mereci!
Ele embolsou o resultado de sua vitória — em grande parte di­nheiro meu —, depois olhou para mim com uma expressão de mise­ricórdia e disse:
— Tu nasceste pra perder, linda. É a força do destino, fazer o quê? - ele recostou na cadeira e começou a assoviar a abertura da famosa ópera de Verdi, e todo mundo riu.
Fiquei impressionada com a cultura musical dos caras; àquelas horas todas diante da TV, assistindo aos desenhos da Disney, afinal tinham valido para alguma coisa. Era a vez de o Leeteuk dar as cartas. Mas àquela altura o efeito da bebedeira e da jogatina já pesava tanto em minha cabeça que eu mal podia me sustentar na cadeira. Será que o pânico estava evidente em meu olhar? Dei uma olhadela vaga em direção ao Leeteuk.
— Não vem com esse olhar de peixe não. — ele advertiu. E re­mexeu na cadeira de modo que eu visse a arma enfiada na cintura da calça.
– Caso não tenha mais dinheiro nós aceitamos peças de roupa – sussurrou um deles em meu ouvido.
Suspirei fundo e olhei para as minhas cartas. Olhei para as minhas fichas — ou para a falta delas. Olhei para o buraco vazio sobre a mesa surrada onde antes estava o dinheiro que já não me pertencia mais. Eu estava em maus lençóis; pior, estava na lona e precisava de uma bela vitória se quisesse sair viva daquele jogo. Olhei para a porta. Ainda nenhum sinal de Heechul. Eu corria contra o tempo.
Suspirei outra vez e, lentamente, com o coração apertado, tirei da bolsa a única esperança que ainda me restava: o cantil de prata.
Na superfície espelhada refletia-se o rosto de uma palhaça com cara de merda: o meu rosto. Sob o olhar dos outros jogadores, alisei len­tamente a prata, como se ali estivesse uma lâmpada mágica. Mas, infelizmente, nenhum génio apareceu para salvar a minha pele.
Apertei o cantil contra o peito, dei-lhe um beijo de despedida e solenemente depositei-o na mesa.
— É prata pura — murmurei.
Olharam de perto para se certificar. Ele viu a inscrição e leu-a em silêncio, porém remexendo os lábios. Depois arqueando a sobrancelha disse em voz alta:
– "Às balas que não nos encontraram. Tiffany"
– Quem é Tiffany? – Perguntou Leeteuk curioso. Gay!
– Minha esposa – respondi e vi o sorriso dos caras morrer e o dele nascer – Vejam como ela é bonita – peguei uma foto de Tiffany e mostrei pra eles.
– Uau Taeyeon, é uma gata e tanto – eu sorri convencida, meu casamento podia ser uma merda, mas minha esposa era de dar inveja.
– Ela é perfeita – zombei lembrando do jantar de ontem.
Pensei que os caras nunca mais fossem parar de rir. Um deles esta­lava beijinhos no ar. Por fim, o outro jogou o cantil sobre o monte das apostas, o que significava que eu permaneceria no jogo por pelo me­nos mais uma rodada. Estávamos prontos para a batalha final quando a porta se abriu com estrépito.
— Mas que porra é essa aqui? — alguém rugiu, como se tomado pela ira divina.
O jogo se interrompeu na mesma hora. Um frio quase palpável preencheu a sala. Não era difícil supor que o famigerado Heechul finalmente havia chegado.
— Hora de puxar o carro, se você quiser sair inteira daqui — sussurrou Leeteuk com um sorriso convencido. — Obrigado pelas lembrancinhas.
Levantei a cabeça, decepção e má sorte visivelmente estampadas na minha testa. Depois espremi os olhos para ver melhor o recém-chegado. Não restava dúvida de que deixava Leeteuk no chinelo na categoria "meliante com cara de assassino". De longe o mais perigoso da turma. Ou será que...
Apertei ainda mais as pálpebras, tentando não sucumbir ao seu olhar.
— Você é o Heechul? — perguntei, atropelando as palavras.
– Sou eu mesmo — ele rosnou, esperando que eu saísse correndo dali tremendo de medo. Mas não foi isso o que fiz. Continuei sentada, esperando.
Heechul arregalou os olhos e inclinou levemente a cabeça, intrigado. Talvez um pouco impressionado com minha capacidade de não derreter como manteiga diante da presença dele.
– Que foi? — ele disse. — Perdeu algo?
Lentamente balancei a cabeça e disse:
– Você.
– Hein? — Heechul obviamente não entendeu.
Então me empertiguei na cadeira, sóbrio até os ossos, para que pudesse me explicar. Mas mamãe sempre disse que gestos valem mais que mil palavras. Portanto, arrastei a cadeira para trás, fiquei de pé. Escutei um suspiro coletivo quando me aproximei dele e deixei meu gesto favorito falar por mim:
1. Começar com a pistola carregada, com silenciador.
2. Sacar do coldre na perna.
3. Lembrar que o sacana fez por merecer.
4. Puxar os gatilhos.
Disparei deixando Heechul estatelado contra a parede. Meus novos companheiros de pôquer subitamente se deram conta de que me haviam subestimado — de que talvez, quem sabe, a princesa fosse pior que todos eles juntos.
Leeteuk levou a mão à cintura, em busca de sua semi-automática. Mas, coitadinho, não sabia que a arma tinha sido surrupiada antes que as cartas da última rodada tivessem sido distribuídas. Só por precaução. Estava em algum lugar debaixo da mesa.
— Agora é tudo ou nada — eu disse, valendo-me de uma expres­são do pôquer para encerrar a brincadeira. Depois eliminei todos em volta da mesa.
Foi então que lembrei: minhas cartas ainda estavam ali. Virei-as uma a uma e... par de valetes. Poderia ter sido melhor. Mas, naquelas circunstâncias, um par de valetes era mais que suficiente; afinal, eu era a única que não havia caído fora do jogo. Mulheres são mais persistentes, fazer o quê!
Bem, tudo que é bom, dura pouco. Eu não tinha mais nada a fazer ali. O dinheiro que eu havia perdido estava à minha disposição, mas não me dei ao trabalho de pegá-lo; de qualquer modo, não passava de alguns trocados da empresa, verba para as despesas miúdas. Peguei a única coisa que de fato me interessava: o cantil de prata.
Depois voltei com a arma de Leeteuk para seu devido lugar, caso ele tivesse herdeiros. A fim de evitar a fauna do bar, saí pela porta dos fundos, que dava para um beco escuro. Os ratos corriam de um lado para outro na penumbra. Corri pra longe da parede, eu detestava ratos!
A lua olhava para mim através da silhueta de prédios decadentes, fazendo-me lembrar de que ainda havia coisas belas no mundo, como um céu cravejado de estrelas. Tirei o cantil do bolso — o luar refletindo sobre a prata — e dei uma golada reconfortante. Talvez fosse ele o responsável por eu ter ficado, mais uma vez, fora do trajeto das balas.
E então avistei o meio de transporte que me levaria de volta para casa: em meio às sombras brilhava uma motocicleta gigantesca em cuja placa se lia: "Taengoo".
Subi na máquina, liguei o motor e caí fora daquele lugar. Uma noite de trabalho como as outras, e nada mais.

Tiffany pov

— E então, Nichkhun, tem feito muitas travessuras, tem?
O colchão balançou quando meu cliente fez que sim com a ca­beça, parecendo uma criancinha medrosa.
"Idiota!" não pude deixar de pensar.
Amarrado como um peru de Natal e com uma bola de borracha entre os dentes, o magnífico, poderoso e milionário Nichkhun Horvejkul estava completamente ridículo. E totalmente sob meu controle. Filho-da-puta. Eu não sabia se ria ou se vomitava. Esfreguei o chicote no nariz dele e disse:
— Você sabe o que acontece com os garotinhos levados, não sabe? São castigadosÉ isso que você quer?
Ele gemeu como um bebé.
— Gosta de sentir o couro na pele, gosta?
Ele assentiu com a cabeça, quase explodindo de prazer. Lentamente deitei-me ao lado dele, prolongando a tortura. Ele tremia de excitação e medo.
– Tem tido pensamentos sujos, não tem? — sussurrei. "Sim! Sim!", ele acenou com a cabeça.
– Tem brincado com o próprio corpo, não tem? "Sim, sim, sim!"
Já era hora de pôr mais lenha naquela fogueira. Conferi minhas possíveis saídas e depois sorri. O que eu estava para dizer seria uma total surpresa para o meu parceiro. Mas, afinal, os especialistas não vivem dizendo que um pouquinho de surpresa é ótimo para esquentar um relacionamento?
— Tem violado as leis internacionais, não tem lindinho? — per­guntei dessa vez com a frieza de uma lâmina de aço. — Fala que não violou, fala.
Nichkhun arregalou os olhos, e uma gota de suor escorreu por seu nariz descomunal. Estalei o chicote e em seguida soltei a bomba:
— Tem vendido armas poderosas para os bandidos, não tem?
Isso dito, várias partes do corpo dele amoleceram como espaguete em água quente. Tentou gritar aos guarda-costas. Mas evidentemente não conse­guiu, com aquela bola ridícula entre os dentes.
Empurrei seu rosto vermelho contra o travesseiro, as bochechas espremidas; depois, sem nenhum aviso e com muita eficiência, vi­rei à cabeça do canalha o mais violentamente que pude.
Nichkhun arregalou os olhos outra vez. A bola de borracha escapu­liu de sua boca e rolou pela cama até o chão. O infeliz já não estava mais em condições de brincar com a vida alheia, seus dias haviam chegado ao fim. Ainda ao lado do corpo inerte dele, peguei meu celular para ver as horas: oito e meia.
— Droga! Os Lee!
Taeyeon ficaria furiosa se faltássemos ao compromisso. Então ouvi alguém bater timidamente na porta. Um dos guarda-costas, receoso de interromper a farra.
— Sr. Horvejkul? — ele chamou do outro lado, hesitante. — O avião sai daqui à uma hora... Senhor?
O gorila começou a bater mais forte, e achei melhor sair dali o mais rápido possível. Não queria explicar o que tinha acontecido ao meu "anfitrião".
Corri para a varanda, procurei por guardas no telhado — não havia nenhum — e olhei por sobre o parapeito.
Uns cinquenta andares abaixo, os táxis da cidade cortavam as ruas como peixes brilhantes nadando nas águas turvas de um rio. Precisava pegar um deles antes que os homens de Nichkhun me trans­formassem no "pescado do dia".
Mas eu estava preparada. Minha bolsa preta tinha sido conce­bida para situações dessa natureza. Sem perder a calma, voltei às portas da varanda, prendi uma alça da bolsa numa arandela de metal sobre a parede e me virei para a noite escura.
"Linda vista", pensei num átimo, e depois corri em direção ao parapeito. Deveria funcionar.
Atrás de mim, ouvi os homens de Nichkhun finalmente arrombarem a porta com suas armas. Hora de dizer adeus.
— Valeu o empurrãozinho, galera — sussurrei antes de transpor o parapeito com um salto arrojado. Aos olhos dos capangas boquiabertos eu havia simplesmente me jogado do telhado como uma espécie de assassina suicida.
No entanto, muito antes que eu me esborrachasse na calçada, minha bolsa se desmanchou num fio de kevlar — superfino e qua­se invisível — que me permitiu descer pela fachada do hotel como uma aranha e chegar ao chão com toda a segurança.
Sem dúvida alguma, a bolsa mais prática que eu usara na vida. Já perto do nível da rua, larguei o fio e saltei sobre a calçada. Um pedestre que passava por perto parou para olhar, mal acreditando no que acabara de ver.
"Deve ser turista", pensei. Mas não fiquei preocupada. Antes que pudesse con­tar aos amigos, o tal cara já teria se convencido de que vira uma filmagem externa para o cinema. Pelo menos assim eu esperava, pois não tinha tempo para me explicar.
Com um sorriso entre os lábios, fechei o casaco e caminhei em direção à portaria do hotel como uma dona-de-casa qualquer vol­tando do mercadinho da esquina.
Já estava próxima ao porteiro quando um táxi parou rente ao meio-fio. Entrei no banco de trás e, a título de gorjeta, sorri cari­nhosamente para o garoto uniformizado que me abrira à porta.
– Obrigada, querido — falei.
– O prazer foi meu — ele retrucou malicioso.
Depois de telefonar ao escritório simplesmente para informar que a missão estava cumprida, refestelei-me no banco do carro e relaxei pela primeira vez desde que recebera a incumbência. Meu Deus, tudo o que eu queria naquele momento era tomar uma bela ducha. Com muita água quente e sabão para lavar da pele a sujeira do mundo. Mas o que eu sentia por dentro não haveria água que lavasse.
Recostei a cabeça no vidro da janela e procurei por estrelas entre os arranha-céus. Naquela parte da cidade, contudo, não havia estrelas a não serem aquelas que se escondiam no interior das limusines. Então fechei os olhos e, com a imaginação, criei meu próprio céu estrelado.
Muito semelhante ao que eu vira certa noite em Bogotá.

Taeyeon pov

Lembrei-me da festa dos Lee a caminho de casa. Essa não era exatamente minha ideia de felicidade. Mas havíamos dito que estaríamos lá, e eu achava importante cultivar a boa vizinhança.
Assim que entrei em casa, constatei que Tiffany já havia voltado do "trabalho", pois ouvi passos no andar de cima, em nossa suíte. Então subi as escadas para lembrá-la da festa. Não vou dizer que me esgueirei até o quarto, mas admito que não fiz o menor esforço para anunciar minha chegada.
No vão da porta, vi que ela sofria para abotoar um vestido rosa. Havia algo de estranho em seus movimentos, mas eu não sabia exatamente o quê. De repente ficou imóvel como uma gazela pressentindo a aproxi­mação do caçador. Depois se virou.
– Querida! — disse com um sorriso forçado. — Não vi você lá embaixo.
– Acabei de chegar. — Meus olhos estavam pregados nos dela. — Como foi o trabalho?
Ela deu de ombros, indiferente. – Tranquilo. O de sempre.
Quando se aproximou de mim, farejou o ar — as narinas latejando de reprovação — e franziu as sobrancelhas.
— Andou bebendo com a Sunny outra vez?
— Ela estava deprimida — falei como quem não quer nada.
— Sunny deprimida?
— Nem todo dia é perfeito — respondi. Sei que o humor negro não é politicamente correto, mas, caramba, eu precisa me divertir um pouco. Tiffany passou por mim e saiu do quarto. Fez o que pôde para evitar que nos tocássemos. A famosa dança dos casamentos falidos.
Passei no quarto da Seohyun só pra verificar, ela ainda estava com aquela amiga, mas agora estavam jogando videogame alegremente. Decidi não interromper e nem contar á Tiffany sobre isso, ela com certeza enxeria a garota de perguntas, ela não entende, são crianças precisam de espaço, as vezes acho que a Seo não traz amigos aqui por isso. Continuei meu caminho.
Segui-a escadaria abaixo e peguei uma garrafa de vinho ao pas­sarmos pela cozinha. Estava até aliviada por termos uma festinha pela frente. Um pouco de conversa fiada, regada a um bom vinho, talvez fosse mesmo a melhor pedida da noite.
– Tudo bem no escritório? — perguntei, já na varanda dos Lee.
– Tudo ótimo — não falava muito mais do que isso quando o assunto era trabalho.
Felizmente a porta se abriu, eles nos receberam como se fôssemos seus melhores e mais antigos amigos.
– Bem-vindos vizinhos!
– Oi! — eu disse, caprichando no sorriso para que não parecesse tão falso.
Tiffany e eu ficamos juntas o suficiente para que nos servissem os drinques e nos julgassem o mais feliz dos casais. Depois nos disper­samos, visitando cada uma das rodinhas de conversa. Acabei chegan­do ao piano de meia cauda, onde um convidado com o cabelo em­plastado de gel tocava alguma coisa: "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin, ou a "Mondschein", de Beethoven, eu não sabia ao certo. Depois atravessei uma nuvem de fumaça de charutos produzida por um grupo de investidores que não falava de outra coisa a não ser de ações e debêntures.
– Está brincando? — disse um deles. — A Duxbury jamais che­gará a esse preço! Ouvi dizer que as ações estão sendo abatidas a cutelo.
– Um banho de sangue — confirmou um outro.
Só bêbada eu podia aguentar aquelas conversas, fui até a cozinha pegar algo pra beber. Um problema que precisava ser remediado já.

Tiffany pov

Cheguei em casa pouco depois das nove. Não tinha tempo para tomar banho; portanto, peguei um vestido qualquer do meu guarda-roupa de "mulher recatada" e joguei-o por cima do modelito dominatrix que eu vestira antes.
Eu ainda fechava os botões quando meu alarme interno dispa­rou. Logo pude identificar o invasor no espelho da cómoda. Taeyeon, parada no vão da porta, me analisando. Na verdade, quase me matou de susto. Que ousadia, a dela. Ninguém espreita Tiffany Kim.
Além do mais, que espécie de esposa espreita a mulher dessa maneira? Por quanto tempo ela estava ali, me olhando? Teria visto o que eu usava por baixo do respeitável vestidinho rosa?
Andamos pelo quarto cuidando para não nos tocarmos — como se dançássemos uma quadrilha às avessas, que somente os casais de longa data sabem dançar —, trocamos algumas alfinetadas de cunho passivo-agressivo e por fim nos dirigimos à casa dos Lee, bem ao lado da nossa. Eu não era lá muito fã das reuniõezinhas que eles costumavam oferecer, mas naquela noite fiquei feliz por ter onde me refugiar.
Ainda antes de entrarmos, Taeyeon começou a fazer perguntas so­bre meu trabalho. Estranho, pois havia muito ela deixara de se in­teressar. Fiz o que pude para não começar a transpirar, o que se mostrou quase impossível, dada a quantidade de couro que eu tra­zia debaixo da minha fantasia de country club.
No entanto, quando os Lee abriram a porta, Taeyeon e eu es­tampávamos no rosto nossos sorrisos pré-fabricados de casal per­feitamente feliz. Eram raros vizinhos que gostavam de nós, alguns nunca conversaram com a gente e sempre nos olhava torto só por sermos um casal gay. Os Lee nos aceitava e respeitava, sempre nos convidando pra jantares e etc. e seus amigos fingiam gostar da gente, então tínhamos que atura-los.
Os anfitriões nos fizeram entrar e nos serviram drinques; nesse meio tempo, pensei com os meus botões: "Que diabos estou fazen­do aqui?”.
Toda aquela gente que víamos nos churrascos e nas festinhas de fim de ano. Os homens nos lançando olhares cobiçosos, as mulheres nos cumprimentando com beijinhos no ar ou acenos afetados.
Taeyeon sempre mantinha um braço envolta de mim, como se eu fosse seu troféu mais precioso. Se ela não fosse mulher, com certeza, ela seria o perfeito marido americano. Ela até se dava melhor com homens do que com mulheres.
Acham que somos o casal perfeito", pensei enquanto sorria e retribuía os beijinhos. As mulheres viam o jeito amoroso com que Taeyeon me tratava (na frente dos outros, claro) e tinham inveja de mim; Os homens às vezes me abordavam na cozinha, me elogiando e elogiando ela.
Ah, se eles soubessem a verdade... eu estava tão cansada de tudo. Missões como a daquela noite às vezes me deixavam deprimida — eu preferia mil vezes o bom e velho tiro certo.
Além disso, não se tratava apenas de um disfarce; aquela era a minha vida, aqueles eram os meus vizinhos. Pessoas legais — a maioria delas —, talvez só um tantinho enfadonhas. Esse era o mundo perfeito com o qual eu sonhara desde menina.
Portanto, talvez fossem os trajes de dominatrix sob o vestido que me davam a sensação de não pertencer àquele lugar. Uma "vida dupla" para a maior parte daquelas mulheres significava abando­nar as obrigações de mãe e esposa para presidir voluntariamente a Associação de Pais e Alunos. O que diriam se soubessem o que realmente faço da minha vida?
Como de costume, Taeyeon logo me abandonou com as mulheres, em favor da con­versa mole dos homens, deixando-me livre para trocar re­ceitas de bolo, dicas de jardinagem e fofocas sobre os vizinhos com as outras mulheres.
Então ali estava eu, conversando com três mulheres cujos aces­sórios incluíam um bebé entre os braços. A mamãe número um exibia sua queridinha como se fosse a primeira menina a nascer no planeta.
Tive de sufocar o riso quando o bebé "perfeito" regurgitou uma gosma horrível sobre as calças do terninho dela. Mas a mamãe número um apenas sorriu, resignada; depois olhou para mim e disse:
— Segura ela um instantinho só enquanto eu me limpo?
O quê?
E a mulher jogou a criança nos meus braços. Nenhuma das situações pelas quais eu havia passado naquela noite chegou a me assustar tanto quanto aquela.
— É que... — tentei dizer. Mas a mamãe já havia desaparecido.
Prendi a respiração e baixei os olhos para ver aquele pacotinho que não parava de se contorcer. Armas, nenhum problema. — Ho­mens se comportando como bebés eu tirava de letra. — Mas bebezinhos de verdade eu mal sabia como segurá-los. "Deus queira", pensei "que eu não deixe a pobrezinha cair no chão!".
Por um instante a menininha e eu ficamos olhando uma para a outra; ela parecia tão assustada quanto eu por ter sido jogada na­quela inesperada relação. Talvez pudesse perceber que eu não era do tipo maternal. Nunca fui, nem com a minha sobrinha, as vezes parecia que a Taeyeon era a tia dela, sempre se importando e cuidando, isso não fazia muito a minha praia.
– Filhos são tudo na vida, sabia? — disse a mamãe número dois.
– Também acho — interveio a mamãe número três. — É como se eles fossem capazes de enxergar até a nossa alma!
"Essa não!" pensei. Olhei para o E.T. em meus braços, que tam­bém olhava para mim. Seria possível que a espiãzinha fosse mesmo capaz de ler meus pensamentos? De ver minha alma e saber o que eu fizera uma hora antes com essas mãos que agora a seguravam?
Respondi às mamães com um sorriso amarelo e tive a sensação de que a qualquer momento eu seria presa, julgada e condenada pelo estilo de vida que havia escolhido. E, de repente... ela sorriu para mim. A pequena assassina!
Por um instante não consegui respirar. Foi como se tivesse rece­bido um choque elétrico direto no coração.
— Ela gosta de você! — disse a Sra. Lee, olhando sobre meus ombros. Por fim soltei o ar dos pulmões e sorri de volta para a criaturinha adorável. "Obrigada por não me delatar, bonitinha."
Senti uma espécie de alívio. Mas não foi só isso. Senti também alguma outra coisa, muito estranha, que eu não sabia ao certo como descrever. De repente, ao tentar pegar o meu colar, a diabinha abriu o bo­tão de cima do meu vestido rosa, revelando um pedacinho do cou­ro que eu usava por baixo. Rapidamente fechei o botão, na esperança de que ninguém ti­vesse visto nada. Por sorte a atenção das mamães já havia se virado para alguma bugiganga nova nas prateleiras. Mas eu sentia claramente um par de olhos distantes pregados em mim.
Os olhos de Taeyeon, observando-me com o bebé no colo. Ela parecia estar com dor. Estranho. Deixamos a festa depois disso. Ela falou que estava com uma dor de cabeça horrível, e o caminho todo pra casa foi feito em silencio absoluto. Assim que passamos pela porta Taeyeon se trancou no banheiro enquanto eu me enterrei no closet desesperada pra tirar aquele traje de couro calorento. Escutei a água cair das no banheiro e suspirei aliviada por poder tirar aquilo, mal meu vestido caiu e eu senti alguém me vigiando. Implorei a Deus que fosse paranoia, mas meus sentidos eram bons demais.
Virei-me pra encontrar o olhar gélido de Taeyeon, eu nunca temi por minha vida como estava temendo agora. Ela tinha me pego direitinho. Malditas torneiras temporizadas!
– Foi trabalhar vestida assim, querida? – perguntou asperamente, seu olhar carregado de raiva e sua voz tão fria quanto um iceberg.
– Não. – respondi tentando parecer natural.
– Então como você explica essa roupa? – ela se aproximou me encurralando, eu não tinha para onde correr.
– Eu comprei pra você – menti deslavadamente e podia ver que ela não ia comprar essa desculpa.
– Pra mim... ? – perguntou incrédula.
– Sim... Pra ver se você toma alguma atitude, eu sinto falta da Taeyeon que eu me casei há anos atrás – ela parecia querer correr agora, eu tinha pego ela – Eu sinto falta de quando ficávamos juntas horas na cama. – Ela desviou o olhar, eu dei um riso amargo – De quando você não era tão frouxa!
Eu nem sei o que me atingiu, no minuto seguinte eu estava presa contra a parede do closet e Taeyeon segurava minha mãos me deixando completamente dominada.
– Eu vou te mostrar quem é frouxa! - Rosnou ela tomando meus lábios num beijo feroz.
Ela sugava e mordia meus lábios sem a menor delicadeza, sem pedir permissão sua língua invadiu minha boca, ela aprofundou o beijo me erguendo e batendo minhas costas contra a parede. Sem apoio passei minhas pernas envolta dela e desgrudei nossas bocas.
– Tae... – chamei, mas ela não me deu atenção. Puxou com força até descompactar meu traje puxando ele pra baixo, ela parou um minuto pra olhar meus seios e com os olhos escurecidos de desejo ela tomou um na boca e começou a beija-lo e suga-lo sem menor cerimônia. Ela bateu seu quadril contra o meu e eu deixei minha cabeça cair contra a parede. Ela escorregou as mãos até minha bunda apertando fervorosamente. Eu só conseguia gemer, nenhum pensamento coerente passava por minha cabeça.
Ela nos levou até a cama e me jogou lá, logo ela estava em cima de mim. Eu tentei toca-la, mas ela não permitiu segurando minhas mãos em cima da minha cabeça. Ela sugava meu pescoço e eu tinha certeza que estaria cheio de marcas amanhã. Bruscamente arrancou minha roupa, e começou a descer seus beijos por meu corpo. Ela mordeu com força meu quadril, depois desceu pra minhas coxas, ela beijou a parte interna delas com fervor antes de finalmente chegar onde eu queria.
Taeyeon sempre adorava me torturar em horas como essa e eu a odiava por isso, ela desacelerou o ritmo e começou a mover a língua lentamente. Eu sabia que ela queria que eu implorasse, mas eu não ia dar esse gosto a ela. Logo ela viu que não daria certo e moveu sua língua pra minha entrada. Seus movimentos eram rápidos e precisos, eu senti o familiar aperto no ventre antes de vir, mordi meu lábio com força pra não gritar o nome dela.
– Você sempre teve um gosto bom.  – resmungou ela antes de voltar a tomar meu clitóris na boca e me penetrando com dois dedos. Não demorou muito e eu vim uma segunda vez, e dessa vez eu não consegui segurar o grito.
- Não grita amor, a Seobaby esta dormindo a um quarto daqui, não quer que ela escute esse tipo de coisa não é? – ela me perguntou.
O tão típico sorriso presunçoso dela me dava vontade de estapeá-la. Mas eu estava exausta demais pra pensar em violência.
– Cansada amor? – rosnou ela no meu ouvido. Eu a ignorei tentando recuperar as forças nas pernas, ela deu um risada baixa no meu ouvido e voltou a atacar o meu pescoço.
– Tae... já deu...
– Eu estou só começando – disse ela se levantando da cama, eu virei à cabeça e vi ela vindo em minha direção. Meus olhos se arregalaram quando eu vi o que ela tinha na mão – Lembra-se dele?
– TaeTae...
– Não tem TaeTae, você queria que sua esposa frouxa tomasse uma atitude, certo? – falou ela ajoelhando na cama – Eu estou tomando. De joelhos Tippany!
Eu engoli em seco, ela queria me matar...
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Quando eu acordei no dia seguinte meu corpo todo estava dolorido, eu me sentei na cama e me embrulhei no lençol, fiz um esforço sobre-humano pra levantar da cama. Senti os músculos das minhas coxas queimarem quando me forcei a ficar de pé. Caminhei até o closet pra pegar um roupão, ao parar na frente do espelho notei meu pescoço coberto de chupões. Deixei o lençol cair e vi meu corpo todo cheio de hematomas. Parecia que eu tinha levado uma surra de um lutador de vale tudo. Ia da um trabalho dos infernos esconder aquilo.
Bufei indignada, ela ia me pagar por isso. Ah se ia! Encontrei minha adorável esposa preparando o café. Ela estava vestia em um robe e com o cabelo todo bagunçado. Seria fofo se eu não quisesse mata-la.
– Olha o que temos aqui, a Bela adormecida resolveu levantar – disse ironicamente – Cansada, amor?
Eu ignorei-a, peguei uma xicara de café e o jornal, e me sentei emburrada na cadeira. Grande erro. Fiz uma careta dolorida e a filha da puta gargalhou na minha cara.
– Dolorida, querida? – perguntou sínica.
– Vai pro inferno!
– Bem, eu vou me trocar, tenho trabalho. A Seo já esta na escola. Até o jantar! – ela saiu da cozinha com um sorriso vitorioso, meu dia não podia piorar. – Ah, e ligaram do seu serviço.
Eu franzi o cenho. Por que diabos me ligaram se hoje eu entrava as duas. Bati meus olhos no micro-ondas e engasguei com o café. Eram três e quinze! Eu ia matar Taeyeon lenta e dolorosamente.
Cheguei exausta, mal tive tempo de comer e cai na cama, não fiz o jantar. Taeyeon parecia uma criança que acabara de receber seu presente de natal quando o entregador deu a pizza na mão dela, ela subiu as escadas correndo em direção ao quarto da Seohyun. Nossa rotina tinha sido quebrada mesmo, então dane-se a perfeição.
Quando Taeyeon foi deitar eu fingi estar dormindo, ela apagou as luzes, puxou as cobertas até o queixo e deu as costas pra mim. Hoje nós estávamos mais distantes que ontem e eu pela primeira vez em anos eu tive a impressão de ouvir ela chorar. Me virei pra checar, mas ela estava de costas pra mim. Fiz um movimento pra toca-la, mas me freei. Fiquei parada escutando ela fungar um tempo.
Não sei se dormi. Mas, deitada de lado, ainda com as costas de Taeyeon virada pra mim, tive a impressão de que via os segundos da minha vida se sucederem no relógio digital, os minutos parecendo horas. 11h20. 12h04. 1h37... 3h00.
De repente, dois telefones tocaram. Os nossos celulares. Taeyeon e eu nos sentamos imediatamente e nos viramos em direções opostas. Seria possível que ela também estivesse acordada todo aquele tempo?
Acendemos nossas luminárias. Depois nos sentamos na beira da cama — cada uma de seu lado, como imagens espelhadas uma da outra — e atendemos nossos telefones.
— Tiffany Kim.
— Kim Taeyeon.
Do outro lado da linha, uma voz masculina. Elegante, sotaque britânico. Era meu chefe. Codinome: Papai. Eu podia vê-lo em seu escritório escuro e sóbrio; na minha imaginação ele jamais saía daquele lugar nem sequer dormia, a mente sempre ocupada com novos planos secretos.
— São três da manhã — eu disse baixinho. — Tudo bem... Papai?
Uma nova missão. Urgente. Papai me deu as instruções com pa­lavras curtas e diretas, dispensando qualquer tipo de amenidades. Nenhum "Olá, como vai?". Nenhum "Acordei você?" Nenhum "Dê um abraço em sua esposa por mim".
— Sim. Tudo bem. Claro — eu disse.
Um clique, e a chamada se interrompeu. Nenhuma palavra de despedida. Atrás de mim, Taeyeon ainda falava em seu celular.
— Essa foi a segunda vez nesta semana — ela sussurrou apertando a têmpora, ela estava chateada, eu só não sabia se era comigo ou com o trabalho. Uma pausa longa e: — Certo. Eu compreendo. Tudo bem.
Ouvi o clique do celular se fechando. Ficamos ali, em silêncio por algum tempo. Eu podia ouvir os pensamentos dela. Viramos uma para a outra no mesmo instante.
— O que foi? — perguntou ela casualmente.
— Papai não está muito bem — eu disse, fingindo preocupação. — Mamãe está apavorada, acha que é pneumonia. Provavelmente é só uma gripe.
Taeyeon refletiu um pouco e, com cautela, disse:
— Talvez seja melhor você faltar ao trabalho amanhã... Não cus­ta nada dar um pulinho até lá e ver como ele está.
Analisei o rosto dela através da penumbra. "Por que tanta gentileza?", pensei.
— Sua mãe ficaria superfeliz — ela continuou — se você passas­se a noite na casa deles.
"E você também, não é?", tive vontade de perguntar. Mas em vez disso falei:
– Você é um anjo.
– Só estou pensando na saúde do velho — ela retrucou, sacu­dindo os ombros. "Na saúde do velho... Sei."
– E a sua chamada, quem era?
– Escritório de Atlanta — ela respondeu de pronto. Talvez um pouco demais. — Mandaram um e-mail com o perfil de uma nova companhia, coisa grande — E sacudindo novamente os om­bros, emendou: — De qualquer jeito eu já sabia que os próximos dois dias não seriam nada fáceis. Vou trabalhar pra caramba.

Então balançamos a cabeça uma para a outra, satisfeitas. Eu havia engolido a história dela; e ela, a minha. Como numa coreografia de bale, apagamos juntas as luminárias e voltamos para debaixo das cobertas. Fechei os olhos e fiquei ali, no escuro, mãos cruzadas sobre o peito como as de um cadáver no caixão. E podia sentir que Taeyeon fazia a mesma coisa. Lenta, mas progressivamente, estávamos nos enterrando vivas.


Notas Finais: Até a próxima! o/

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