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- Sra e Sra Kim Capítulo 12
agosto 08, 2013
Fanfic Sra e Sra Kim
Escrita por ByunBiia
[+18]
Notas da Autora: Oiie gente!!! *--* Primeiro, desculpem-me pela demora, essa semana está muito cheia -.-', prometo me esforçar mais. Segundo, me desculpem, de novo, se tiver qualquer erro é que eu estou morrendo de preguiça de revisar ^-^' (é... hoje o dia tá difícil) Enfim, let's go ler!
Taeyeon
pov
E
mais uma vez ela se fora, sem olhar pra trás, sem se preocupar com o que as
pessoas ao redor dela sentiam, sem se preocupar com o que eu sentia. Tiffany
sempre foi uma pessoa turrona, orgulhosa, teimosa e acima de tudo sempre se pôs
em primeiro lugar.
Eu
sempre fui mais fria, arrogante, e nunca liguei pra nada, nem pra ninguém. Mas
no momento em que eu a conheci tudo mudou de figura. Eu sempre coloquei ela em
primeiro, mesmo com esse casamento fracassado sempre fiz questão de fazer as
vontades dela e sempre me preocupei com ela.
Mas
parece que eu estava nessa canoa sozinha e o pior, ela estava furada.
Tiffany
pov
Doeu,
e doeu muito deixa-la lá. Mas era necessário. Ela provavelmente está esperando
uma chance pra me matar, e como diz o ditado “Antes ela do que eu”. Assim que
entrei no toalete feminino senti essa dor me sufocar, era desesperador. Um lado
meu queria voltar lá e beija-la com tudo. Outro lado queria pegar minha pistola
e descarregar na cara dela, até desfigurar aquele rostinho lindo. Quando já não
conseguia me conter as lágrimas escaparam, eu sempre as considerei sinal de
fraqueza, mas sentir essa dor e chorar ao invés de fincar uma faca no próprio
peito pra ameniza-la requeria uma força sobre humana.
Olhando
minha imagem refletida no espelho, não reconheci aquela mulher frágil. Eu
parecia uma das mocinhas dos filmes que eu tanto amava, chorando, sofrendo, mas
diferente delas meu final não ia ser aplaudido por ninguém.
Retoquei
a maquiagem e censurei a mim mesma por ter baixado a guarda. Além disso, mal
podia acreditar que havia deixado a arma em cima da mesa, foi uma estupidez sem
tamanho. Isso não combinava nem um pouco comigo, sempre fui perfeccionista como
pude esquecer uma coisa tão crucial como isso? Esse era o efeito que Taeyeon
tinha sobre mim. Ela me desestabilizava de um jeito que eu esquecia meu próprio
nome, muitas vezes ela fazia isso só com um beijo. Bem, se lamentar não
adianta. O que eu faço agora?
Numa das
extremidades do toalete, uma mulher rechonchuda recostava-se na parede, ao lado
de uma ampla seleção de brindes de perfumaria: cremes, loções, sprays de
cabelo, perfumes, sabonetes. Até mesmo cigarros gratuitos. E fósforos também,
é claro. Rapidamente avaliei os artigos.
—
Boa noite — a mulher disse, sorrindo, à espera de uma bela gorjeta.
—
Boa noite — respondi. E então tive uma ideia. — Olha só pra tudo isto aqui.
Sabia que muitos destes produtos são inflamáveis!
A
mulher fechou um pouco o sorriso, sem saber o que responder. Sorri e esfreguei
as mãos uma contra a outra. Eu era dessas que sabem fazer de um limão uma
limonada. A TaeTae que se prepare.
Taeyeon
pov
Meus
olhos estavam pregados na porta daquele toalete, nem piscar eu piscava, porque
aquela morena era rápida e provavelmente evaporaria se eu o fizesse. Eu tinha
ela em minhas mãos, não ia perder a oportunidade.
Eu
conhecia aquele lugar pelo avesso. No inicio do casamento nós duas passávamos
mais tempo naquele banheiro que no restaurante. Mas isso agora não vem ao caso.
Então
sabia que ali não havia janelas. E sabia que Tiffany era esperta o
bastante para não tentar fugir pela porta dos fundos — ninguém ousaria
atravessar a cozinha daquele chef, a não ser que tivesse instintos
suicidas. Fiquei na mesa segurando minha arma no colo.
"Nenhuma
saída, querida, cedo ou tarde você vai ter que voltar pra mim."
Esperei,
olhei para a tela do celular checando as horas, continuei a esperar. Ela estava
demorando demais, manobrei a arma de volta ao coldre da coxa e fui até o
banheiro. Eu fui com cautela, Tiffany era perigosa, ela derrubou um elevador só
pra poder acabar comigo. Não duvido nada que ela exploda o restaurante. Um lado
meu queria acreditar que ela estava abalada e que estaria sofrendo tanto quanto
eu com aquilo. O outro lado dizia que ela estava armando algo e que eu tinha
que ficar esperta. Eu estava prestes a conferir o que se passava com ela quando
a camareira do banheiro das mulheres passou por mim como um morcego saído do
inferno, como se tivesse visto o diabo com os próprios olhos. Ou talvez a
diaba.
Oh-oh...
Então
um estrondo veio da banheiro, o chão tremeu e os candelabros chacoalharam. A
porta do banheiro começou a cuspir fumaça, e tudo cheirava a desodorante. E
então a baderna se instalou, as pessoas gritavam e corriam em direção a saída,
o alarme disparou e tudo virou um verdadeiro inferno.
Tentei
abrir caminho através da multidão, mas a histeria era ainda maior, fui jogada
pra trás por um homem acima do peso que corria feito um louco pra saída. Cadê o
cavalheirismo desse povo?
Foi
então que a vi, cabeça baixada saindo pela tangente, passando pelo estande da
recepcionista junto à porta principal. Tentei alcançá-la, porém mal pude me
mexer. Tiffany desapareceu na multidão como um fantasma. Um sorriso orgulhoso
tomou conta do meu rosto, ela era linda, inteligente e tinha uma imaginação
assustadora.
Quando
voltei a realidade da situação o orgulho sumiu, lembrei que ela não era mais
minha e que suas qualidades que varias vezes ressaltei eram um perigo.
Principalmente pra mim. Ela tinha causado a explosão e sequer olhou pra trás,
sequer se importou se algo aconteceria comigo. Era essa a diferença entre nós
duas, eu pra ela era só mais uma, ela pra mim era tudo.
Por
fim me dei conta, eu tinha que ir atrás dela, não podia deixar ela escapar de
novo. Tomei o rumo da porta, abrindo caminho a cotoveladas e me esgueirando
pelos vão até a saída. Por fim cheguei a rua — a tempo de ver Tiffany sumir no
Mercedes-Benz.
Merda!
Ela
tinha conseguido mais uma vez. E agora? Olhei na direção que ela havia tomado,
pensando no que fazer. Alguém me tocou timidamente no ombro. Virei-me para trás
para ver o que era.
—
Desculpe a intromissão — disse um dos refugiados do restaurante —, mas a
senhora não está... ticando?
Ticando?
Parei pra ouvir e pra meu desespero eu estava ticando mesmo! O barulho vinha de
algum lugar no meu vestido, mas de onde? E em que momento ela tinha colocado
aquilo ali?
Eu
fiquei igual uma idiota babando por ela, enquanto a vadia bancava a gostosona
só para plantar alguma coisa no meu vestido!
O ruído
parecia vir de todos os lados. Foda-se! Abri o zíper e tirei o vestido mais
rápido que pude e joguei-o para o... Buuum! Pedacinhos de pano
caíram do alto como confetes ao vento. O sujeito que me havia alertado tremia
debaixo de uma caixa de coleta dos correios. Agora eu estava realmente puta
da vida. Eu adorava aquele vestido.
Eu
xinguei tudo e todos que estavam na minha frente, amaldiçoei até a vigésima
geração de Tiffany. E apenas de calcinha e sutiã peguei um taxi recebendo
olhares cobiçosos do motorista, que quase bateu o carro duas vezes. Eu nunca
tinha passado tanta vergonha na minha vida. Tiffany ia me pagar por isso!
Tiffany
pov
Não
pude resistir, dei a volta no quarteirão e voltei a tempo de ver o desespero de
Taeyeon ao arrancar o vestido e ele explodir. Tive um ataque de riso ao vê-la
ali de lingerie, furiosa e xingando Deus e o mundo. Ela se enfiou no táxi e foi
embora. Eu queria saber pra onde, mas não tinha coragem de segui-la. Agora ela
viria atrás de mim com força total, eu tinha que fugir.
Como
o célebre mágico Houdini, eu havia conseguido escapar daquele restaurante
contrariando todas as probabilidades. Mas meu coração ainda estava atado por
cordas e correntes. A partir dali, para onde eu deveria seguir?
Reduzi a
marcha do Mercedes para dobrar uma esquina. Como eu gostava de dirigir aquele
carro, especialmente à noite. Nessas ocasiões eu conseguia convencer a mim
mesma de que a vida tinha lá o seu propósito, de que eu estava indo para algum
lugar, e ainda por cima em grande estilo.
Mas
naquela noite foi diferente. Eu ainda sentia o gosto dos lábios de Taeyeon nos
meus, seu cheiro. Aquele beijo foi mais uma tortura pra mim do que pra ela.
Sentia-me como uma maluca esquizofrênica. Que diabos eu estava fazendo?
Ao longo
dos últimos seis anos minha vida nunca havia carecido de sentido. De um lado eu
tinha meu trabalho, o perigo, a adrenalina; de outro, uma casa linda e bem
organizada, festas na casa dos vizinhos, um jardim perfeitamente cuidado. Jantares
às sete.
Sempre
havia me esforçado para arquivar, organizar e compartimentar minha vida. Para
ser a melhor agente, a melhor esposa, a melhor amante... Mas sempre faltava
algo, mas eu nunca conseguia saber exatamente o quê.
Agora
meus dois universos paralelos, antes na mais perfeita ordem, haviam se
misturado irremediavelmente — as fronteiras haviam se diluído. Todos os
arquivos tinham sido lançados para o alto.
Minha
vida havia escapado ao meu controle, e eu estava morrendo de medo — o que
deixaria minhas colegas da Archer chocadas. "Tiffany Kim não tem medo de
nada", diriam. Mas elas estavam enganadas. Aquele abalo sísmico no meu
mundo havia me deixado com todos os fios de cabelo em pé.
Liguei
o rádio na esperança de tirar da mente aqueles pensamentos negativos. Começou
uma sucessão de músicas bregas e românticas ao estremo, mudei de rádio e só
piorou, mudei de estação de novo e o locutor falou:
— E
agora vou levá-los numa viagem madrugada afora, uma viagem gostosa e sexy, com...
“Jazz para apaixonados". E lembrem-se: nós ficaremos de pé
enquanto vocês estiverem de pé.
"Tenha
a santa paciência!" Já estava
disposta a desligar o rádio quando o celular tocou."Quem
poderia...?" Taeyeon...
Abri
o aparelho e conferi o identificador de chamadas. Sim, era ela. Meu coração
disparou como se sofresse uma overdose de cafeína. Mas não sabia dizer se isso
era uma coisa boa ou uma coisa ruim. Hesitei, mas depois atendi.
—
Alô.
— Essa
foi a segunda vez que você tentou me matar hoje. - Caramba,
com aquela voz ela poderia virar uma superstar do sexo por
telefone. Ainda bem que eu tinha acabado de reduzir diante de um sinal
vermelho.
—
Ah, não chora, vai — eu disse com uma calma afetada. — Foi só uma bombinha.
— Quero
que você saiba — ela rosnou — que estou indo pra casa e,
chegando lá, vou queimar cada objeto que você comprou em toda
a sua vida.
Acelerei
o motor, fazendo-o rugir. Foi como se Taeyeon tivesse dito: "Estou indo
pra casa pra fazer amor até você implorar pra eu parar.". Abri um sorriso
de voracidade, afinal, eu ainda não havia jantado.
O
sinal ainda estava vermelho, mas quem se importava com isso? Não havia ninguém
na rua, e talvez a mulher do rádio tivesse razão. Um pouco de perigo, uma
voltinha na montanha-russa...
— Vamos
ver quem chega lá primeiro — sussurrei. Engatei o drive e
pisei fundo o acelerador.
Taeyeon
pov
Nossa,
com aquela voz ela podia virar uma superstar do sexo por
telefone. Meu coração batia a mil por hora. Seria o perigo? A adrenalina? Ou
quem sabe seria outra coisa?
Fui
até a casa de Sunny peguei outro vestido e sai feito uma louca. Não parei para
analisar meus sentimentos; sabia apenas que precisava meter as mãos na minha
carrasca antes que a noite chegasse ao fim. Só depois poderia parar um
pouquinho e refletir sobre o assunto. Um sedã preto tinha acabado de estacionar
junto ao meio-fio. O motorista passou a cabeça pela janela e ofereceu:
—
Limusine, senhora?
Olhei
o carro de ponta a ponta. Exatamente o que eu precisava.
Minutos
depois eu estava a caminho da auto-estrada, costurando o trânsito. A mão
esquerda no volante, o celular na direita. Digamos que eu tinha dado ao
motorista uma noite de folga.
"Espero
que ele não leve uma multa por minha causa", pensei. Eu tinha um encontro, e nada nesse mundo me faria chegar
atrasada.
E
dali a pouco a auto-estrada já se esparramava à minha frente, levando-me de
volta ao que um dia tinha sido a minha casa. Onde minha adorável esposa
esperava por mim. Olhei para a rodovia. Olhei de relance para o celular. Olhei
de volta para a rodovia.
—
Foda-se — eu disse, e apertei um dos números da memória. Claro que estava
ligando para Tiffany, para quem mais poderia ser? E ela não teve a menor pressa
para atender.
— Ainda
não chegou? — foi logo dizendo, sem nenhum "alô".
—
Preciso saber de uma coisa — falei secamente. — A primeira coisa que passou
pela sua cabeça quando me viu pela primeira vez.
Silêncio
absoluto. Pelo menos uma vez na vida, nenhuma resposta, nenhuma piadinha
inteligente. Ela estava desprevenida.
—
Eu respondo se você responder primeiro — disse por fim.
"Ah,
não, não vai ficar de sacanagem agora, não!"
Eu
estava farta de jogar. Nosso casamento inteiro tinha sido um jogo. Queria, nem
que fosse por uma única vez, deixar toda aquela encenação de lado.
—
Você parecia uma manhã de Natal — respondi. — Não saberia como dizer de outra
forma. - Achei que o silêncio fosse se estender por toda a eternidade. Depois:
Por que está me dizendo isso agora?
—
Acho que... — Meu Deus, por que será que eu estava fazendo aquilo? — Acho que,
quando chegamos ao fim de alguma coisa, automaticamente pensamos no início
dela.
Ela
não disse nada. O barulho do trânsito vazava pelo telefone. Com certeza estava
dirigindo com a janela aberta. Eu podia imaginar seus cabelos varridos pelo
vento.
—
Achei apenas que você devia saber a verdade.
Tiffany
continuou muda. Dava a impressão de que tinha caído no sono. Ou parado para reabastecer.
Teria ouvido alguma coisa do que eu disse? Minha vontade era de gritar.
"Fala comigo, Tiffany. Porra, diz alguma coisa!"
—
Então vai, fala — pedi. — Diz a verdade.
—
Quando te vi... — a voz agora era suave, amena. — Achei que...
—
Fala — sussurrei.
— Achei
que você era o mais lindo alvo que eu jamais tinha visto em
toda a vida.
Balancei
a cabeça, muda, digerindo aquelas palavras. Saboreando cada uma delas. Tinham
gosto de merda.
—
Então pra você foi sempre uma questão de negócios — eu disse. — Desde o início.
—
Desde o início — ela disse. — Negócios. Pura e simplesmente.
Caí
duas faixas para a esquerda e segui pela pista de alta velocidade. Mas achei
que devia agradecer-lhe. Por ter mantido a cabeça fria, por ter-me dado a
oportunidade de esfriar a minha própria cabeça.
—
Obrigado — eu disse, com propósito. — Era isso que eu precisava ouvir.
Desliguei
o telefone, minha armadura de ferro já de volta ao seu devido lugar. Na época
em que eu estava no colégio e todos tremiam ao nome Kim Taeyeon. Tiffany não
conhecia esse lado meu, e eu ia apresentar a ela, hoje. Pisei fundo o
acelerador.
Tiffany
pov
Manhã de
Natal. Ela disse que eu parecia uma manhã de Natal.
Passamos
os últimos anos do nosso casamento nos afogando no mais completo tédio, e só
AGORA ela me aparece com essa história de manhã de Natal? Isso era demais para
mim. Paixão, raiva, medo, sexo... Tudo isso eu tirava de letra. Mas uma
declaração como aquela, não.
Ela
havia deixado a porta entreaberta. E eu havia olhado pela fresta, cheia de
desejos... mas apavorada. Taeyeon havia se revelado uma mentirosa de marca
maior, capaz de jogar os jogos mais perigosos com inquestionável competência e
a mais absoluta frieza. Eu já não sabia mais quem ela era, o que era real, o
que não passava de uma simples tática de guerra. Portanto, alguma coisa me fez
pisar no freio.
Taeyeon
pov
Enfim,
lar, maldito lar. Cruzei a última colina voando, mas ela já estava lá,
estacionando o carro diante da garagem. Não podia deixar que entrasse em casa
primeiro. Joguei o carro no nosso jardim, dei um cavalo-de-pau sobre o gramado
e cobri o Mercedes de nacos de terra. Não pude ver a expressão no rosto dela
quando ela saltou do carro, mas seria capaz de jurar que não havia gostado nem
um pouco da minha manobra. Que se dane! Não era ela quem cortava aquela grama
três vezes por semana.
Desliguei
o motor, pulei do carro e, saltando canteiros e arbustos, irrompi na direção da
porta de entrada de modo a chegar lá antes de Tiffany. Abri um sorriso de
vitória quando pus a mão na maçaneta.
—
Merda! — A porta estava trancada e aferrolhada, e minhas chaves não estavam comigo.
Quando me virei para trás, vi que ela já entrava pela porta lateral.
Caramba!
Aquela casa se transformaria numa fortaleza nas mãos de uma agente tão
carimbada como Tiffany. Eu tinha de entrar! Corri para o quintal. Talvez
pudesse arrombar a porta dos fundos. Mas assim que contornei a casa, a porta se
abriu por conta própria. Do outro lado estava Tiffany, transfigurada em
amazona: cabelos revoltos ao vento, olhos refletindo o luar, pés afastados
numa postura de Rambo prestes a atacar.
Acalentava
nos braços uma submetralhadora de botar medo em qualquer um. Congelei no lugar.
Tiffany estava de tirar o fôlego. Não restava dúvida de que sabia manejar muito
bem aquela arma. Mas teria coragem suficiente?
Seria
capaz de me olhar nos olhos e me despachar para o inferno depois daqueles
momentos de prazer e tortura na pista de dança? Depois das coisas que eu havia
dito pelo telefone? Por mais que me odiasse, teria a frieza necessária para
puxar o gatilho? Ela se mexeu ligeiramente, e isso me bastou como resposta:
"É
claro que teria!"
Imediatamente
pulei para a direita.
Blam!
Deitada
no chão e cuspindo terra, eu já me preparava para morrer — sabia que, por mais
rápido que conseguisse me arrastar dali, não teria a menor chance de escapar da
mira dela. Não havia nada que eu pudesse fazer. Todavia... a morte não veio.
Fiquei
aliviada ao constatar que minha cabeça não tinha sido reduzida a uma poeira
loira no chão. E surpresa ao ver Tiffany voltar para o interior da casa e bater
a porta com estrépito. Ouvi o tique da tranca. Tradução: "Fique longe da
minha casa!".
—
Sinto muito, Pany. — murmurei enquanto me levantava. — Mas meu nome ainda está
naquela escritura.
Corri
até a porta de tela do porão, botei minha podadeira para funcionar e entrei.
Depois subi as escadas, atravessei a porta com o máximo de cautela e passei o
escritório com a rapidez de uma sombra. Uma vez lá, abri um nicho secreto na parede
e de lá tirei uma pistola: prontinha para cuspir fogo e devidamente
silenciada.
Nenhuma
necessidade de desviar a atenção dos vizinhos do reality show a
que sem dúvida estariam assistindo. Depois saí para o corredor.
Tudo
estava terrivelmente calmo. E assustador — os recantos da minha casa, antes tão
familiares, haviam subitamente se transformado num terreno desconhecido.
Tiffany saberia da minha presença ali? Estaria à espreita em algum lugar?
Talvez achasse que tinha me afugentado com aquela demonstração gratuita de
poder de fogo. Talvez achasse que estava segura em sua fortaleza trancada a
ferrolhos e tivesse ido dormir.
Dei
um passo em direção às escadas e com o rabo do olho vi um vulto passar correndo
de um lado para outro. Seria Tiffany?
Blam,
blam, blam...
Joguei-me
ao chão, evitando com sucesso a saraivada de balas que se abateu sobre a parede
oposta, estilhaçando porta-retratos e mandando uma luminária para bem longe
dali. Então ela ainda não tinha ido dormir. E ainda estava puta comigo.
Com
Tiffany enfurecida em meu encalço, corri para o abrigo mais próximo: a cozinha.
Atirei de volta e rolei sobre a bancada central.
Ela
atirou de novo, mas abri a tempo a porta da geladeira. As balas ricochetearam
no aço como se o nosso freezer fosse o escudo de um guerreiro
grego. Opa, foi mal. Se Tiffany ainda não quisesse me matar, nada a seguraria
agora. Tinha um carinho todo especial por aquela geladeira. Havia demorado três
meses para escolher o modelo.
Blam!
Blam!
Isso
mesmo. Esposa exterminadora à solta. Caralho. Talvez fosse o caso de passar
para a sala de jantar. No caminho até a porta, disparei mais uma rodada de
tiros. Taças de cristal explodiram em fileira, como garrafas numa barraquinha
de tiro ao alvo. Armários vieram abaixo, despejando no chão suas vísceras
gastronómicas. O bule de chá predileto dela também levou bala, assim como a
amiguinha dele, a chaleira. Jamais apitaria outra vez.
Tiffany
ficou estupefata e parou um instante para avaliar os estragos causados no seu
cómodo favorito da casa. Eletrodomésticos, prateleiras, enfeites — sua
preciosa cozinha tinha se reduzido a pó. Depois se virou para mim. Olhando
naqueles olhos flamejantes pude ter uma clara ideia de como seriam as
profundezas do inferno.
Calor
demais para mim. Achei melhor cair fora dali. Continuei na direção da porta,
atirando para trás. De repente, dic, dic, dic... Merda.
A munição tinha acabado. Dei uma última olhada na Mulher-Demônio e escapei pela
saída mais próxima. De volta à escuridão do jardim.
Mas
em vez de vir atrás de mim, Tiffany simplesmente bateu a porta e passou a
chave.
—
Que porra! — Por que ela insistia em me deixar do lado de fora?
Isso
não era nada bom. Ela estava me dando uma surra. Corri até a estufa na
esperança de encontrar uma arma qualquer. Sabia que Tiffany e sua gangue haviam
limpado todo o meu arsenal, mas talvez fosse possível transformar uma das
ferramentas numa arma letal.
Revirei
toda a tralha à procura de alguma coisa, aquele lugar precisava de uma faxina!
E então avistei algo promissor: um tesourão de poda da melhor qualidade.
Avaliei
o instrumento numa das mãos: excelente, era suficientemente pesado. E
versátil. Serviria para abater, furar, cortar, arrancar. Não era a tecnologia
de ponta com a qual eu estava acostumada, mas dadas as circunstâncias achei que
poderia ser útil.
Voltei
ao jardim e, protegida pela noite, comecei a dar golpes no ar com o tesourão.
Mas quando cheguei à porta do porão, ela estava trancada. Obviamente, a Miss
Eficiência já havia passado por ali e colocado o cadeado na tranca. Talvez eu
ainda conseguisse entrar, mas a operação seria demorada e decerto muito
barulhenta. Então optei por buscar uma alternativa. Dei uma volta em torno da
casa, espreitando pelas janelas. Sabia que Tiffany ainda estava a espreita
esperando qualquer movimento meu.
"O
escritório!", pensei. "Ela
nunca entra no escritório."
De
mansinho, fui até a janela do escritório e arrisquei uma olhada. Estava vazio.
Nenhum vestígio de strip-tease sobre a mesa. A janela estava
trancada, mas, enfiando a pontinha do tesourão entre o parapeito e a esquadria,
consegui arrombá-la.
"Já
não se fazem casas como antigamente", pensei. Ainda nenhum sinal de dela. Então pulei para dentro,
tesourão em punho. Depois de conferir os arredores, tomei o caminho da cozinha.
Supus que Tiffany já teria saído dali, inconformada com a destruição. Uma vez
dentro, peguei uma panela de aço. Depois parei. Meus olhos detectaram algo
ainda mais interessante — uma frigideira de cobre, top de
linha. Tiffany sempre comprava o que havia de melhor.
Então
voltei ao campo de batalha — armada de meu inseparável tesourão e da minha
fidelíssima frigideira. Como dizem por aí, o importante não é o que a pessoa
tem, é o que ela faz com as coisas que tem.
Lentamente
atravessei a sala de visitas, olhando para todos os lados, conferindo cada
canto e espiando atrás de cada peça de mobiliário. Até ali, tudo bem. Mas
quando pus o pé no vestíbulo...
Bang,
bang, bang!
Como
um atirador de elite, ela abriu fogo do topo das escadas. Voltei rapidamente
para a sala de visitas e me espremi contra a parede, esperando. Silêncio total.
Depois
de um instante, estendi a frigideira um pouco além da quina da porta, na
esperança de ver a posição dela espelhada na superfície de cobre.
Blam!
Tiffany
arrancou a frigideira da minha mão com um único tiro, jogando-a do outro lado
da sala. Então me perguntei: "Por que aquela operação se mostrava
mais difícil do que as outras?".Na maioria das vezes eu concebia um
plano, seguia esse plano e corria atrás do meu alvo. Frio, confiante, eficaz.
Sem nenhum envolvimento emocional. Quando reagia, tratava-se apenas de uma
questão de sobrevivência. Nada pessoal.
Mas
essa história com Tiffany... Talvez tivesse começado como uma missão de rotina,
encomendada pelo patrão dela. Assim como a minha tinha sido encomendada por
Mamãe. Mas agora tudo havia se revestido de um caráter pessoal. E foi aí que as
coisas ficaram perigosas. Senti um par de olhos sobre mim e imediatamente virei
para ver o que era, tesourão ainda em punho.
Minha
vontade foi de rir.
Lá
estava o ursão dela, recostado na lareira. Apesar dos ferimentos, sorria para
mim como se eu fosse sua melhor amiga. E lá também estavam todas as estatuetas
dela, perfiladas numa prateleira. Decerto ela havia recolhido algumas
lembranças de nossa vida juntos para levar quando fosse embora. Ou para queimar
numa fogueira mais tarde. De um jeito ou de outro, aquilo me deu uma ideia.
Notas Finais: Então... no próximo capitulo aparecerá uma nova soshi. (Ebaaa) Sugestões, criticas, elogios, outras coisas?